água por todos os lados
- bebê
- 23 de jul. de 2024
- 1 min de leitura
- por lucia pouchain -

E aí, o tempo para (ou parece parar). Em plena segunda feira, nada para fazer. Nenhuma notícia direta, apenas as mesmas se repetindo pela internet: alagamento, chuvas, perda de vidas, mercadorias, buscas, ajuda, falta de tudo: abrigo, comida, trabalho, água (água por todos os lados). Tudo parado, na mesma, como o animal sobre o telhado sem ter como ir, nem pra onde.
O medo surge, mas não há tempo de alimentá-lo, e até mesmo a esperança morre de inanição, seca em meio a tanta água.
E a água invade e sobe, lamacenta, sujando e borrando cada pedaço de história, levando tudo, menos as dores crônicas que provocam. O choro ecoando em cada falta, em cada excesso, em cada metro cúbico escondido dos olhos. Escoa tão livremente que engana o cotidiano, tenta lavar a dor, mas a realça com cores indefinidas e tristes que apagam os corpos diluídos.
Quando as lágrimas secarem, quando as águas baixarem, surgirão os gritos assustadores incapazes de afugentar a morte de tudo que se foi e do pouco que restou dilacerado manchado marcado eternamente por algo tão maleável e vital: água. Por todos os lados.
*foto bebê baumgarten
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