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trem do interior

Atualizado: 9 de jan.

- por bebê baumgarten -



Ouço o barulho do trem e estou calma. Lá fora o sol brilha e a tarde é fria como nos invernos da infância, quando íamos aos parques comer bergamotas e elas tinham o gosto da fruta tirada da árvore. Na casa da minha amiga tinha pé de bergamota. E tinha fogueira no São João, bandeirolas coloridas e música no quintal.

Estou toda de azul. Gosto de mim assim. Me visto de céu para voar e ver a paisagem que passa rápida na janela do trem. Ele sacoleja e vou para um lado e para o outro, sonolenta. Vejo campos largos, figueiras arqueadas de vento e penso em como eram misteriosos os capões de árvores conosco embaixo, olhando o céu pela teia de folhas e galhos, minúsculos olhos de sol aquecendo pedacinhos de nós. No horizonte, conjuntos de casas formam pequenas aldeias e uma ou outra resiste solitária na imensidão. Penso nas pessoas sobre essa terra, ao largo da estrada onde passa o trem, e cantarolo a canção: ‘à boca da noite / dei com a tua beleza / não contava com o raio de sol / e a luz forte no lençol / que clareou tua face / que clareou tua face‘. Os rostos e suas máscaras. Prefiro inventar o amor e jogá-lo ao vento, feito poeira fina, com notas musicais que sussurram no meu ouvido, que entram casa adentro e deitam comigo na doce viagem do trem que atravessa o interior.


* trecho da canção Trem do Interior, do Ednardo




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